Tina Johnson

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This looks awful. Era mio figlio film trailer. "É provável que conseguíssemos fazer isso por si. No entanto, decidi que não o faremos. " Mário bateu um punho indignado no mogno da mesa, fazendo esvoaçar algumas das notas de quinhentos que tinha aí colocado nem haviam cinco minutos. "Não está a ser razoável. Você conduziu a conversa inteira no sentido de aceitar, e agora, simplesmente, recusa-se? " "Só agora é que nos especificou o método que deseja. Escolha outro qualquer. Podemos enforcá-la e deixá-la pendurada na ponte 25 de Abril até à hora de ponta. Podemos regá-la com gasolina, atear-lhe fogo e deixá-la à solta pelas ruas abaixo. Compreendo que queira deixar alguma espécie de mensagem, mas tudo menos o que nos está a pedir. " "Não, não compreende. Esta é a única maneira que faz sentido matar a minha ex-mulher. As circunstâncias aparentes são perfeitas, " Mário gesticulou entusiasmado. O brutamontes que acompanhava a figura sinistra sentada à sua frente não conseguiu evitar uma careta de nojo. "Isto é um problema de dinheiro? Posso dar-lhe o dobro destes cem mil… Porra, trezentos mil, até. Falemos de dinheiro, nesse caso. Por isso peço-lhe que reconsidere. " O homem inclinou-se na direcção de Mário. Estava agora mais exposto à luz vinda da lâmpada incandescente que se esforçava por afastar a penumbra para os cantos daquela adega húmida. Mário viu-lhe as rugas cortadas na pele idosa, serpenteando serenamente pela sua face fadigada pelos anos. "Ouça, Mário. Vou-lhe expor a minha posição, porque é verdade, e é importante para mim que você a perceba. Lamento se lhe dei a entender que fazemos de tudo. Não o fiz por mal. De facto, sempre fizémos de tudo, até este momento. O que me está a pedir é simplesmente demasiado. " "Mas o dinhei-... " "Por favor, deixe-me acabar antes de protestar. " A voz rouca do homem abafou o compartimento e a palma da sua mão levantada acalmou logo as intenções frustradas de Mário. "Eu fiz setenta e dois anos na semana passada. Toda a minha família se reuniu em minha casa para o dia. Sabe como é, eu só suporto realmente meia dúzia mas os restantes vêm sempre por arraste. Deixe-me que lhe diga que não há nada mais doce na vida de um velhote do que ver os seus netos a correr pelo jardim. Você para aqui virá, com certeza. " O velho sorriu, mostrando os seus dentes amarelados. Aproveitou a pausa para tossir, e o que começou como uma tosse esporádica escalou rapidamente para uma agressiva cheia de pieira e outros sons obscenos que conseguiram trespassar o catarro no seu esófago. O seu guarda-costas retirou uma garrafa de água sabe-se lá de onde, abriu-a, e colocou-a ao alcance do homem, que agradeceu com um gesto e logo bebeu um bom terço do recipiente num trago só. "Porém, não me restam muitos anos neste mundo. Sou um homem doente. A saúde, como sabe, é algo que o dinheiro não compra, " disse, pegando numa das notas roxas mais próxima. "Dava facilmente uma destas por cada hora que Deus me garantisse. Infelizmente, isto não funciona assim. " Mário percebeu que aquela conversa não levaria a lado nenhum, e sentia-se irrequieto na sua cadeira, passando várias vezes o seu peso de um lado para o outro. Mas sempre que reunia coragem suficiente para sequer entreter na sua cabeça a ousadia de interromper o monólogo, o brutamontes deitava-lhe um olhar fulminante, como se fosse capaz de ler a sua mente, e acatava no seu lugar. O velho não se mostrava tão ciente do seu geral incómodo, e procedeu normalmente. "Ora, eram já dez da noite naquele dia, e a minha neta mais nova pintava num livro de colorir. Os outros adultos falavam de ciclismo e empregos, e eu sou demasiado velho para um e demasiado paranóico para o outro, pelo que me aproximei da pequena Marta e perguntei porque é que ela estava a desenhar uma mulher a tomar banho numa bacia. 'Ela não está a tomar banho, avô. ' 'Ai, não? ' perguntei eu, divertido, na pouca inocência que ainda me resta. E fiquei a apreciar o desenvolver do desenho. Então ela desenhou uma fogueira debaixo da bacia e fez uns rabiscos para representar o vapor. Depois cobriu de escarlate a pele da mulher. 'Ela está a ser cozida viva, ' disse-me ela, orgulhosa. " Mário soube logo onde aquilo ia parar. "Na altura, não pensei muito no caso. Algo que ela tivesse visto na televisão. Sabe como são os garotos de hoje em dia... Mas agora, as semelhanças são demasiadas, e, por isso, espero que me perceba o porquê de não poder levar a cabo o que me pede. " O velho parecia cansado de tanto falar, e entrelaçou os dedos em cima da sua barriga pronunciada, indicando que tinha acabado e que era agora a vez de Mário. "Essa é uma história muito bonita, mas não compreendo como é que alguém na sua área de trabalho pode ser supersticioso a este ponto. " "Superstição? Você desilude-me se acha que eu acredito em disparates desses. Tenho os pés para a cova. Ganho a fantasmas e bruxas em experiência. Não, Mário, o que me assusta é a hipótese, infinitésima que seja, de que eu mate a sua ex-mulher da mesma maneira, de que seja apanhado, e de que a minha querida neta saiba e que, um dia, quando a nostalgia a levar a rever os seus cadernos, encontre aquele desenho. Esse é o tipo de infeliz coincidência capaz de influenciar uma mente jovem em maneiras imprevisíveis. É esse o meu medo, e é por isso que eu não tenho qualquer intenção de aceitar a sua proposta, por muito dinheiro que tire dos seus bolsos. " Um silêncio desconfortável retomou o ambiente. Mário não sabia mais para onde se virar. Tinha demorado dois anos até achar o contacto de um assassino, e este dizia-lhe agora que não podia fazer a sua vontade. "Se posso perguntar, porquê dessa forma? " Mário engoliu em seco, mas não via qualquer razão para não ser honesto. "É a pior maneira que consigo pensar. Qualquer outra maneira deixaria remorsos de poder ser pior ainda. " Os olhos do velho arregalaram-se com aquela resposta resmungada. Mário preparou-se mentalmente para responder à inevitável questão acerca do que a sua ex-mulher tinha feito para merecer tal destino. No entanto, por vez disso, o homem levantou-se de forma inesperada. "Cuide de si, Mário. Ainda vai a tempo. " E, virando-lhe as costas, "Não se preocupe com esta conversa. Vejo que é um homem com meios, e eu não tenho idade para andar a brincar aos mafiosos. " Mário ficou boquiaberto com a brusquidão do final daquela conversa, enquanto o velho desapareceu pela mesma porta por onde tinha entrado há cerca de duas horas. O guarda-costas aproximou-se de Mário, deixando-o recolher o seu dinheiro primeiro, e conduziu-o à garagem, onde lhe indicou a mesma bagageira do mesmo BMW de onde tinha vindo. Mário não reclamou, desta vez, vencido, e ele próprio abriu a bagageira e se dobrou na posição fetal lá dentro. A viagem foi rápida e com aroma a mofo, com os mesmos solavancos em ordem inversa da anterior. O carro eventualmente parou e, quando se certificou que não estava ninguém nas redondezas, o brutamontes abriu a mala e deixou Mário sair. Sem uma única palavra, mas com um último olhar desaprovador, reentrou no carro e partiu. Mário não sabia o que fazer. Passara o último mês a ter sonhos molhados sobre aquele assunto todo. Sentia-se inerte, incapaz, da mesma maneira como se sentia logo a seguir à causa daquele rancor todo. Colocou as mãos nos bolsos e vagueou pela cidade apagada até o sol começar a rastejar pelo horizonte acima. Um lufar de ar fresco pareceu animá-lo, de alguma maneira. Que caralho estou eu a pensar, meditou ele sobre o luscofusco. Aquela mulher apenas merece ignorância da minha parte. Não, nem isso. Ela merece que eu siga a minha vida normalmente, como se ela fosse uma mísera estranha. E Mário sentiu-se leve e os seus lábios sorriram sozinhos quando começou a fantasiar sobre as coisas que ainda podia fazer. Talvez tivesse tido sorte em que o velho não aceitasse, pois nunca se iria sentir tão leve como se sentia naquele momento meditativo. A sua mão encontrou o maço de notas amarrotadas no seu bolso e, sem pensar, atirou-o para trás das suas costas, rindo-se como uma criança, e, com este gesto, estava livre do ódio que o acorrentava fora da sua percepção. De facto, estava tão satisfeito consigo mesmo, que não reparou no aviso de perigo de obras na estrada, nem reparou na fita vermelha que esvoaçava ao vento, já vandalizada por algum bêbado na noite, e caiu num buraco de esgoto aberto. A queda foi de quatro metros. No fundo, esperava-o uma piscina de água a ferver que jorrava de um tubo roto. Os trabalhadores da estrada apenas o achariam no início do seu turno, o seu corpo cozinhado como o de uma lagosta, sem qualquer fractura ou traumatismo craniano.
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